Trilha recomendada para ouvir enquanto lê
Essa aconteceu comigo quando eu ainda ia lá pro centro da cidade, nas rodas de samba e voltava tarde da noite, às vezes passando por umas ruelas pra cortar caminho.
Numa dessas vezes, tive que voltar sozinho, porque meus amigos quiseram continuar no lugar que estávamos e eu acordaria cedo no dia seguinte, além de morar mais distante do que eles.
Voltando, passei por um daqueles atalhos por dentro das ruelas, sempre vazias, mas geralmente bem curtas. Não era exatamente o caminho mais prudente, mas na maioria das vezes valia o risco, poupava um bom tempo e quase nunca encontrava com ninguém no percurso.
Mas naquela noite eu encontrei. Enquanto andava com o passo bem rápido pra não dar mole por ali, do nada, aparece uma figura baixa para a estatura de um homem e peluda, da qual eu só conseguia distinguir a silhueta. Parei na mesma hora, congelado de susto. O bicho, que lembrava um cão, mas bem grande, robusto e com uma anatomia um pouco diferente, deu um passo adiante, como que me desafiando.
Eu estava contra a luz e por isso não conseguia ver com muita clareza todo o animal, mas o que vi, vi bem e não era nada que eu conhecia, muito menos daquela região.
Eu comecei a respirar bem devagar e pedir que aquilo fosse embora dali.
Nisso, de dentro do silêncio em que as coisas ficaram, ouvi um barulho metálico por perto. A coisa também pareceu ouvir e desviou o olhar na direção. Pouco segundos depois resolveu ir investigar. Eu aproveitei e fui embora dali sem nem olhar pra trás. Quando saí do beco, danei a correr pra longe.
No dia seguinte, contei pros meus amigos e ninguém levou a sério, dizendo que eu estava bêbado ou “no brilho” como eles dizem. Eu até tinha bebido um pouco, mas tenho certeza absoluta do que vi naquele dia e da sensação horrível que fiquei naquele encontro.