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A assombração do apartamento

Trilha recomendada para ouvir enquanto lê

Vou te contar essa história, mas já te aviso: até hoje, quando penso nela, fico arrepiado. Isso aconteceu uns anos atrás, quando eu aluguei um apartamento bem antigo, daqueles prédios dos anos 50. O lugar tinha um clima meio pesado desde o dia que fui ver. Era o quinto andar, e o cheiro de mofo já te recebia na entrada. Mas, como o aluguel estava bom e eu precisava me mudar rápido, acabei ignorando aquela sensação esquisita.

Logo de cara, o que mais me incomodava eram os corredores. Eram longos, mal iluminados, com aquelas lâmpadas velhas que piscam de vez em quando, sabe? Aquele tipo de coisa que te faz acelerar o passo sem nem perceber. E foi assim que começou.

Na primeira noite, depois de ajeitar minhas coisas e tomar um banho, deitei pra dormir. Devia ser umas três da manhã quando acordei com uns passos no corredor. Eram suaves, mas dava pra ouvir nitidamente alguém andando de um lado pro outro. De início, achei que fosse algum vizinho insone ou alguém chegando tarde do trabalho, então nem dei muita bola.

Só que na noite seguinte, a história se repetiu. E não era só isso: o barulho tinha uma cadência estranha, sempre na mesma hora, como um relógio marcando o tempo. Às vezes eram os passos, outras parecia que algo pesado estava sendo arrastado pelo chão. Depois de umas quatro noites assim, comecei a ficar intrigado. Como já tinha falado com alguns vizinhos e o pessoal era bem quieto, não parecia que o barulho vinha de alguém vivo.

E aí, curiosidade me pegou. Num dia, perguntei pro zelador sobre a história do prédio. Ele me olhou com uma cara meio estranha, como se tivesse desconfortável com o assunto. E aí me contou: “Esse apartamento, do quinto andar, ficou vazio por uns bons anos. Antes de você, ninguém conseguia ficar lá muito tempo.” Ele disse que, nos anos 60, uma mulher morava ali. Ela era conhecida por ser muito reservada, quase ninguém a via. Um dia, ela simplesmente sumiu. Sem aviso, sem despedida, nada. O curioso é que nunca encontraram o corpo.

Depois disso, o lugar ficou com fama. Dizem que os moradores ouvem coisas de madrugada, mas ninguém fica tempo suficiente pra descobrir o que é. Confesso que a história me gelou um pouco, mas na hora eu ainda tentei racionalizar: “História velha, sabe como é, boatos de prédio antigo.”

Mas as noites não pararam de me assombrar. Uma vez, acordei e juro que ouvi uma espécie de sussurro bem baixinho vindo do corredor. Era quase imperceptível, mas parecia uma voz. Tentei me convencer de que era coisa da minha cabeça, até que, uma noite, decidi que ia descobrir o que estava acontecendo. Peguei uma lanterna, deixei um gravador ligado e esperei.

Quando deu 3 da manhã, os passos começaram. Dessa vez, mais fortes, mais próximos. Levantei devagar, com a lanterna na mão, e fui até a sala. Lá, no canto mais escuro, algo começou a se formar. Primeiro, parecia só uma sombra, mas, conforme me aproximei, deu pra ver que era uma figura de mulher. Ela estava ali, parada, com um vestido branco todo sujo, o cabelo desgrenhado e um olhar… Cara, nunca vou esquecer aquele olhar. Era vazio, como se ela estivesse ali, mas ao mesmo tempo, não estivesse.

Minha respiração ficou pesada e o ar no cômodo parecia ter congelado. Você já teve aquela sensação de que o tempo para por uns segundos? Foi isso. Só que o mais estranho é que, mesmo apavorado, não consegui me mover. Ela começou a andar na minha direção, devagar, quase flutuando. Estiquei o braço com o gravador, e ela sumiu do nada, assim, como se fosse fumaça.

Fui ouvir o gravador no dia seguinte e, no meio de todo o silêncio, tinha uma voz fraca, bem no fundo, sussurrando: “Ajude-me”.

Naquele momento, eu sabia que não dava mais pra continuar ali. No dia seguinte, arrumei minhas coisas e fui embora. E quer saber? Nunca mais voltei lá. O apartamento, pra mim, continua sendo um mistério, mas uma coisa é certa: aquela mulher, ou o que quer que fosse, ainda tá presa lá de algum jeito.

É como eu disse: às vezes, as coisas que a gente não consegue explicar são as que mais nos assombram.