Eu e a Laura, minha namorada, tínhamos decidido passar uns dias longe da cidade. A ideia era descansar, então alugamos um sítio que parecia perfeito: isolado, tranquilo, com um quintal enorme cheio de árvores frutíferas. Chegamos no sábado de manhã e o dia foi ótimo. Fizemos um churrasco, tomamos vinho, e à noite fomos dormir cedo, porque queríamos aproveitar o domingo inteiro.
Acordei de madrugada com uma luz na cara. De início, achei que tinha deixado o abajur ligado ou algo assim, mas logo percebi que não era isso. A luz vinha de fora. Era muito forte, branca, e atravessava as cortinas finas do quarto. Estranho foi que, além da luz, dava pra ouvir um barulho de folhas balançando, como se tivesse ventando muito – mas só nas mangueiras.
Olhei pra Laura, que ainda dormia profundamente, e decidi levantar pra ver o que estava acontecendo. Peguei o celular pra usar como lanterna e saí do quarto. O resto da casa estava completamente escuro e silencioso, o que só tornava tudo mais esquisito. A luz estava vindo do quintal, então fui até a porta que dava pra varanda.
Quando abri a porta, o brilho me cegou por um segundo. Não era como luz de carro ou lanterna, sabe? Era diferente. Tinha algo incômodo nela, como se fosse pesada. E o vento… só balançava as folhas das mangueiras, nada mais. Nem a grama parecia mexer.
A coisa mais estranha é que a luz parecia estar vindo de cima, mas não dava pra ver o céu. Fiquei parado ali, tentando entender o que estava acontecendo. Me senti exposto, mas não de um jeito normal, como quando você acha que alguém está te olhando. Era mais profundo. Como se eu fosse pequeno demais perto daquilo.
Tentei dar um passo adiante, mas minha respiração começou a falhar, como se o ar estivesse diferente. Foi aí que algo se moveu no meio das árvores. Não sei explicar o que era, mas a luz começou a diminuir, quase como se estivesse sendo “recolhida”. Só que não era rápido, nem direto. Ela parecia se espalhar e depois sumir, como um véu sendo puxado.
Quando tudo finalmente escureceu de novo, fiquei parado por alguns minutos, tentando decidir se voltava pra dentro ou se continuava ali. No fim, a coragem acabou, e voltei pro quarto. Laura nem se mexeu. Passei o resto da noite acordado, ouvindo o silêncio, tentando entender o que tinha acabado de ver.
No dia seguinte, contei pra ela, mas a reação foi meio óbvia: “Você devia estar sonhando.” Talvez ela tenha razão, mas eu sei o que vi. E ainda me pergunto se aquilo viu a mim.