A preparação
Faz um ano que eu resolvi acampar com meus amigos que sempre me chamavam e que já haviam desistido, pois eu sempre negava. Não é muito a minha praia, sou mais da cidade e de me conectar do que de me isolar e tal. Mas a questão de estar na natureza sempre me gerou curiosidade e acabei topando.
Eles fizeram todo o planejamento, escolheram o percurso que incluía uma trilha leve, prepararam o equipamento, barracas, lanternas, repelente, etc. Se dependesse de mim, estaríamos totalmente desguarnecidos, porque eu não fazia ideia de que era necessário tantos detalhes. Todos preparados, dormimos lá na minha antiga casa para sairmos todos juntos bem cedinho.
O dia correu super bem; a trilha foi muito gostosa de fazer, passamos por uma cachoeira, fizemos algumas paradas e encontramos lugares lindos. Acho que nunca tinha visto nada igual. Quando deu umas 16h, eles disseram pra gente procurar um lugar para passar a noite, porque ainda precisaríamos limpar o local, armar as barracas, fazer as instalações e tal, e no escuro seria tudo mais difícil.
O acampamento
Assim fizemos e ao cair da tardinha chegamos numa colina, já estávamos terminando de montar as duas barracas que levamos. O dia tinha sido muito bom, e eu estava exausta, mas satisfeita com a experiência. Já pensava até em acompanhá-los numa próxima vez. No meio do mato o frio começou a ficar incômodo, mas acho que eles já previam que isso aconteceria, porque prepararam uma fogueirinha. Acho que foi aí que começou a ficar estranho.
No meio do mato, de noite, ao redor da fogueira, eles começaram a contar histórias e causos de coisas que já tinham visto, lendas que conheciam. No começo era mais pela zoeira, mas percebi que depois começaram a contar coisas que talvez não tivessem espaço pra contar em outro contexto, ou fossem rapidamente desacreditados. Ali não. Ali eles se ouviam com credibilidade, porque já tinham passado por algo semelhante.
Eu nunca tinha visto ou presenciado nada e fiquei só ouvindo. Talvez por isso tenha ficado assustada. Cada história me fazia pensar que aquelas coisas que eles contavam estariam à solta por ali e sem nenhum resquício da civilização pra nos proteger ou afastá-las. O clima foi ficando tenso, mas acho que só pra mim, eles estavam falando com um certo prazer de quem até curte ter presenciado essas experiências. Em determinado momento, acho que perceberam que eu estava meio assustada e pararam. Fomos todos para as barracas dormir.
A visita inesperada
Eu fiquei na minha barraca com uma das meninas. Éramos em cinco e os outros três rapazes ficaram na outra barraca que estava logo ao lado. Me despedi da minha amiga e deitei para dormir. Usei a desculpa do frio para me cobrir completamente, como uma criança faz com o lençol, achando que assim estará mais protegida. Fechei os olhos, mas os pensamentos não ajudavam. Eu ficava pensando que coisas assustadoras existiam e que aquele lugar era propício para suas aparições e com isso me arrepiava toda. Eu tremia de medo.
Foi quando eu comecei a ouvir um barulho repetitivo e que não sei descrever bem. Parecia um grilo, mas era constante, regular e tinha um timbre metálico. Parecia ressoar. Parece meio impossível, mas é o melhor que eu consigo descrever. O que mais me chamou atenção é que não combinava em nada com o contexto dali. Não parecia orgânico, natural. Acredito que mesmo que inconscientemente, meus sentidos focaram na audição, porque eu esqueci de todo o resto e apenas fiquei prestando atenção naquele barulho e curiosamente ele começou a crescer, o que foi me assustando.
Eu comecei a ficar com muito medo. Me encolhi toda, mas o barulho parecia rondar ao meu redor e eu abri os olhos. Nesse momento, eu vi uma luz acender toda a barraca por dentro e fiquei em choque, sem reação ali parada. A luz decaiu devagar, até cessar abruptamente. E o que eu presenciei depois disso me causa incômodo até agora. Era um ser comprido, de aparência delicada, delgado, com olhos enormes no que eu acho que devia ser a face dele. Ele todo emanava um brilho, que não sei se era reflexo da composição de sua pele ou resultado de algum material que ele usava, ou ainda se era algum tipo de luminosidade que ele emitia. Eu pensei em gritar, mas foi como se eu não tivesse controle do meu corpo, como se estivesse completamente paralisada.
O contato
O ser veio até mim e fez um movimento que eu entendi que queria dizer que ele não me machucaria. Pude ver que ele não estava sozinho e havia outros. Depois ergueu um dos membros que era o equivalente a um braço ou algo assim e a luz ficou forte novamente e preencheu toda a minha visão. E eu só lembro até aí. Depois disso, só lembro de acordar no dia seguinte, no mesmo lugar onde me deitei para dormir. Todos agiam normalmente e ficaram preocupados quando eu levantei afoitada e completamente em pânico. Expliquei a eles o que tinha visto, eles confirmaram que viram uma luz na nossa barraca, mas disseram que pensaram que tinha sido só nossa lanterna.
Até hoje eu não sei o que aconteceu naquela noite ou o que eram aqueles seres da colina. Mas eu sei que foi real, eu não estava sonhando. E sim, eu estava com muito medo e sei que o medo pode ser bastante sugestivo. Mas não há a menor chance do que eu vivi ser uma alucinação, queria muito que fosse, vários traumas estariam resolvidos. Acho que seguirei com esse episódio me atormentando para o resto da vida.