Eu tinha uns 9 anos na época, e nunca esqueci. Isso foi no começo dos anos 90, quando ainda morávamos na zona rural, numa fazenda perto de Castro, interior do Paraná.
Era um fim de tarde, verão, aquele calor abafado. Eu tava brincando no quintal com meu irmão mais velho, o Jonas, e uns primos que tinham vindo visitar. A fazenda era bem grande, com pastos, mato e algumas árvores isoladas, aquelas típicas araucárias que dominam a paisagem por aqui. A gente sempre brincava até começar a escurecer, e nesse dia não foi diferente.
Naquele dia, o Jonas teve a ideia de irmos até um lugar que ficava atrás da fazenda, onde tinha uma parte mais densa de mata. Ele dizia que tinha visto umas pegadas estranhas lá um dia antes. Eu, com 9 anos, tava meio assustado, mas não queria ficar pra trás. A gente foi caminhando em fila, e quanto mais a gente se aproximava da mata, mais o clima mudava. O calor foi dando lugar a um friozinho esquisito, mesmo com o sol ainda brilhando no horizonte.
Chegamos num ponto onde a trilha quase sumia no meio da vegetação, e o Jonas, todo empolgado, começou a mostrar onde ele tinha visto as tais pegadas. E de fato, no chão de terra úmida, tinha umas marcas, só que não eram de animais que a gente conhecia. Eram como se fossem de uma mão, mas gigantesca, com três dedos longos e afundados no solo, como se algo pesado tivesse passado por ali.
A gente ficou meio confuso, mas como criança não pensa muito, seguimos explorando. Foi aí que escutamos o primeiro som. Parecia um farfalhar de folhas, mas não vinha de nenhum lugar específico. Olhamos em volta, mas a mata tava estranhamente quieta. Sem vento, sem barulho de passarinho, nada. O silêncio era tão intenso que comecei a sentir um zumbido nos ouvidos, e meu coração disparou.
Aí, de repente, o Jonas olhou pra cima e parou de falar. Ele tava olhando pra uma das árvores mais altas, uma araucária enorme, que ficava a uns vinte metros da gente. A princípio, eu não vi nada, mas aí comecei a perceber uma coisa estranha. Parecia que tinha algo se movendo entre os galhos, mas não era um bicho comum. Era uma sombra… uma forma comprida, como se fosse uma pessoa, mas o jeito que aquilo se mexia não fazia sentido. Não fazia som, e os galhos nem balançavam.
O que eu lembro com mais clareza é o formato dos olhos, ou melhor, dois pontos luminosos. Não era como uma luz forte, mas brilhava o suficiente pra se destacar no meio das sombras da árvore. A coisa se mexeu de um jeito tão rápido que a gente nem teve tempo de reagir. Aquela sombra simplesmente desapareceu entre os galhos e foi como se o barulho da mata voltasse num estalo. Tudo voltou ao normal.
Ninguém falou nada na hora, a gente só correu de volta pra fazenda o mais rápido que conseguimos. Quando chegamos em casa, meu pai perguntou por que estávamos ofegantes e pálidos. O Jonas contou, mas ele deu risada, dizendo que era invenção nossa, coisa de criança com muita imaginação. Mas eu juro, aquilo não era imaginação.
Por muito tempo, tive pesadelos com aquela sombra. O olhar daquela coisa me segue até hoje, como se estivesse me vigiando de algum lugar que não consigo ver. Nunca mais voltei naquele canto da fazenda, e até meus primos, que sempre brincavam lá, começaram a evitar o lugar.
Não sei o que era aquilo, mas de vez em quando escuto histórias parecidas por aqui, de gente que viu “coisas” estranhas nas matas do interior. Sinceramente, espero nunca mais ver nada assim.